sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Trepar árvores

para a sereia que me veio acordar,
Boas,

há dias lembrei-me de uma história de infância.Tinha eu mais ou menos sete anos, decidi que subir árvores me parecia fascinante e foi o que me pus a fazer sempre que tinha uma oportunidade. Encantava-me a sensação de chegar ao topo. Passar alguns minutos a ver onde posso apoiar os pés e para onde posso mudar as mãos sem mais preocupação nenhuma na cabeça para, com um bocadinho de esforço, me levantar no topo da árvore, olhar à volta e ficar super contente e com uma sensação de orgulho. Tinha corrido riscos porque a árvore parecia gigante, desobedeci ordens porque os meus pais disseram-me para não o fazer mas no fim, consegui fazer o que queria.
Era uma pequena amostra de uma sensação que, ao longo dos anos, vai ocorrendo cada vez menos. A sensação de ter chegado um pouco mais longe, ter feito algo fora da rotina e que muita gente não compreende porquê, que nos dá uma satisfação pessoal enorme. Mais tarde começamos a associar este prazer a muito menos acontecimentos. A um sucesso académico ou desportivo, a sair com uma recém-conhecida e acabar por trocar um beijo ao fim da noite, a ser promovido na empresa... Tudo coisas que, com a idade a passar, vão acontecendo cada vez mais raramente. Mas enquanto se é garoto basta subir a uma árvore e era o que eu fazia.

Continuando com a história, certo dia, parte da minha família foi lá para um canto qualquer em Portugal apanhar azeitona. Eu como era miúdo e ainda não podia ajudar assim tanto decidi procurar uma árvore para subir. Isto ainda demorou um bocado porque eu não queria uma árvore qualquer. Eu queria a maior. E já que não era suposto fazê-lo tinha que ser uma que estivesse um bocadinho longe do meu pai.
Olhando para trás, isto foi como sempre me comportei em relação a tudo. Tentar dar um passo maior que a perna. Quase nunca consigo chegar exactamente onde queria, o que acaba por trazer uma pequena dor, mas por outro lado tenho sempre a satisfação de me virem dar os parabéns porque fiz mais do que esperavam de mim e a felicidade de não ter sido tempo perdido.

Voltando às árvores, quando encontrei a que me parecia a mais interessante lá fui eu ramos acima. Ainda me assustei um bocado porque escolher a maior trás sempre alguns problemas mas em compensação trouxe uma vitória bem maior. Vitória esta que só me soube bem durante um pequeno momento... quando cheguei ao topo percebi que estava nevoeiro e não se via nada. Não podia gritar ao meu pai "pai, olha onde eu estou", porque não basta fazer uma asneira, temos que avisar toda a gente que a fizemos (pelo menos quando temos sete anos) e depois percebi que também não conseguia descer sozinho... A árvore era demasiado alta, eu era demasiado pequeno e é sempre mais fácil medir as coisas olhando de baixo do que olhando de cima. Lá tive de gritar à mesma para o meu pai mas algo como "pai, tira-me de onde eu estou".
O meu pai lá andou um bocado à minha procura, por causa do nevoeiro, e acabou por me ajudar a descer. Para criança, até foi uma história engraçada mas agora vem a parte triste... nunca mais tentei subir a árvore nenhuma.

O medo de falhar tirou-me algo que me dava bastante prazer na altura... porque é que fui tão fraco? Vá, tinha sete anos é certo, mas alguém podia ter-me dito para não desistir assim. Mas será que posso realmente culpar alguém por eu ter desistido? Poderia se agora nunca desistisse de nada que me deu prazer antes... mas será que não há coisas das quais desisti nestes últimos anos? Bastantes na realidade... porque não me lembrava desta história? Porque haveria de escolher um caminho fácil sem hipóteses de queda quando há tantas coisas que quero fazer? Novamente o medo de falhar que só os miúdos não têm... talvez o medo de partir a cabeça na queda. Mas alguém me veio mostrar que este medo não nos traz nada e a minha decisão de novo ano é só uma, voltar a querer dar um passo maior que a perna! O que podemos obter seguindo uma vida trivial resignados à sorte que vamos tendo? Muito pouco... sorte só tem um num milhão e não podemos esperar por ela. Daqui para a frente vou voltar a tentar esticar tudo ao máximo, chegar ao topo de todas as árvores que me der na cabeça que quero subir.

É claro que fazer isto vai sempre levar as pessoas a topos dos quais não conseguem descer. Vale a pena desistir por isso? Claro que não... haverá sempre alguém que vos ajude, tal como o fizeram para mim nestas férias, por isso coragem! Trepem uma árvore, liguem aos amigos para irem jogar um jogo de futebol como nos bons velhos tempos, convidem um amor não concretizado para tomar café, tentem pintar uma tela, aprendam um instrumento, saltem de pára-quedas... corram riscos e aproveitem cada topo a que chegarem! Para as pessoas que tiveram algo traumático na vida que os deixa sempre de pé atrás aqui vai a frase que um amigo meu me disse há umas semanas, "a estrada com pior alcatrão já a percorreste, agora aprecia a vida, vais ver que vai ser tudo melhor" e é o que vou fazer.

Se alguma vez me virem meio deprimido falem-me em trepar árvores que de certeza me vai ajudar e espero que acabe por ajudar alguém que leia o blog também. Um grande abraço,

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